Intencionalidade pedagógica e a tecnologia
Por Raphaela Novaes, gerente de inovação pedagógica na Liga Educacional
Entende-se por tecnologia, segundo o dicionário, um conjunto de técnicas, conhecimentos ou procedimentos. Quando falamos em tecnologia, atualmente associamos a um aparelho ou um meio eletrônico como tablets, celulares, computadores, etc. Mas você já parou para pensar que a caneta esferográfica, que surgiu em 1937, era considerada uma tecnologia de ponta na época? Tecnologias surgem, normalmente, para resolver problemas ou melhorar o desempenho/tempo de execução de determinadas tarefas. No exemplo dado, da caneta esferográfica, seu surgimento tinha como objetivo resolver o problema das canetas tinteiros que borravam muito, não tinham grande durabilidade e não funcionavam bem em altas altitudes.
De que maneira o surgimento da caneta tinteiro transformou a educação e a forma como as pessoas aprendem? Da mesma maneira que os tablets, computadores, celulares se propõem a fazer isso hoje no setor educacional.
As canetas tinteiros não foram criadas para melhorar o processo de ensino aprendizagem. Tablets, computadores, celulares, também não. No entanto, fazem parte do nosso dia a dia e, portanto, também devem ser incorporados no dia a dia escolar.
Há dois pontos importantes nessa reflexão:
- A sala de aula muitas vezes não reflete o cenário real em que vivemos. Se utilizamos celulares, computadores, tablets, para nos comunicar, agendar compromissos, realizar anotações, nos entreter, etc., por que não podemos usá-los na escola, na universidade e nas salas de aula em geral?
- Usar esses recursos em sala de aula não quer dizer, necessariamente, melhorar o processo de ensino aprendizagem.
O uso das tecnologias como potencializadoras do processo pedagógico deve ser precedido de intencionalidade pedagógica: quando eu sei o que eu quero que meu aluno aprenda, quando eu conheço o meu público-alvo, quando eu me permito conhecer a realidade desses estudantes, eu posso traçar estratégias de aprendizagem que envolvam (ou não) tecnologias para fazer com que o aprendizado seja mais eficaz.
O maior problema, então, não está no uso ou no não uso das tecnologias no processo educativo, mas em se pensar a educação em massa, sem considerar o contexto. Tablets para todos? Celulares para todos? Computadores para todos? Essa não é uma realidade. E nem a solução.
Certa vez, minha afilhada, na época com 9 anos, me disse que não gostava das aulas de inglês. Ela estava com o celular na mão... Então, propus que a gente fizesse uma nova brincadeira: ela entraria no google tradutor, escolheria uma palavra, colocaria a tradução para o inglês, eu ouviria, ela me daria dicas, e eu tentaria descobrir o que era. Separamos as palavras em categorias. Uma hora eu tinha que adivinhar, na outra hora, era ela. A medida que eu dava as dicas, ia perguntando se ela já havia escutado aquela palavra em algum outro lugar, se ela estava reparando na pronúncia, etc. Nos divertimos por algumas horas e ela aprendeu algumas palavras novas em inglês.
Talvez tenha continuado sem gostar das aulas, mas percebeu que pode usar o celular como um recurso de busca, de conhecimento e que isso poderia se atrelar a diversão.
E se não tivéssemos o celular? Eu poderia, com uma folha de papel e uma caneta (a tal da esferográfica, que surgiu em 1937), criar um jogo da memória em que em uma carta estivesse o nome do animal em português e, na outra, em inglês. O jogo também poderia envolver dicas, mímicas, etc. Em ambas as situações, eu teria utilizado a "tecnologia", mas certamente não foi isso que fez a diferença.
Em resumo: ignorar a tecnologia dentro de sala é afastar a sala de aula da realidade. Acreditar que somente o uso da tecnologia vai melhorar o processo de aprendizagem é um total desconhecimento do que é o processo de ensino aprendizagem.
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