Rotinas inteligentes na busca por uma inovação disruptiva na educação

Rotinas inteligentes na busca por uma inovação disruptiva na educação

Podemos afirmar que a nossa geração nos coloca como a sociedade mais conectada digitalmente, oferecendo por meio das Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs) uma educação acessível e possível, ainda que com muitos desafios pela frente. As tecnologias disruptivas, como a Inteligência Artificial, trazem indagações e inquietações sobre o futuro da educação, em um contexto ainda incerto sobre os rumos da aprendizagem. Na mesma direção, as instituições educacionais têm apostado no investimento em inovações tecnológicas para estimular e engajar seus alunos, acompanhando as mudanças nas diversas esferas sociais e mercadológicas. Já está consumado o fato de que pedagogia e tecnologia podem andar juntas, apoiando o processo pedagógico e fornecendo ferramentas capazes de transformar as tradicionais salas de aula em espaços colaborativos e propícios a aprendizagem, seja de forma virtual ou presencial

Entretanto, acompanhar as tendências tecnológicas não é garantia de sucesso no desenvolvimento de competências e habilidades para o profissional do século XXI. As escolas e universidades possuem o enorme desafio de conectar as necessidades reais do mercado com a aprendizagem oferecida. Fazer isso significa reinventar a experiência do ensino, trazendo abordagens mais integradoras, que façam com que os alunos aprendam a relacionar de imediato os conhecimentos adquiridos em sala para projetos reais.

A democratização da internet trouxe novos componentes e recursos para a sala de aula, antes centralizada no conhecimento de uma única pessoa: o professor. Professor e Instituição de Ensino precisaram repensar o seu papel nessa nova realidade. A revolução tecnológica afeta as instituições educacionais em um segundo eixo: a ressignificação do processo de aprendizagem. A aprendizagem é a valorização de todo o ato pedagógico, enquanto o “ensinar” tem como sustentação o ato de transmitir informações e conteúdos fragmentados aos alunos. Ainda que na literatura tenhamos muitos estudos e pesquisas sobre as novas metodologias de ensino e aprendizagem, sabemos que a jornada está apenas começando. As iniciativas de revisão curricular, implementação de novos programas de aprendizagem e atividades que acompanhem as últimas inovações ainda são isoladas. Entretanto, os alunos que chegam à universidade, em sua maioria, já estão confortáveis em utilizar os dispositivos pessoais tecnológicos para acessar à informação, o que só deixa mais latente a discrepância entre o que se diz ser “educação universitária” com o que realmente ainda encontramos nas universidades, com aulas totalmente expositivas, carteiras enfileiradas e professores não familiarizados com recursos e ferramentas tecnológicos.

Algumas instituições de ensino se anteciparam às tendências e observaram que o aprendizado deveria ser individual, centrado no aluno e, com isso, surgiram novos olhares para a aprendizagem a partir das metodologias ativas, do ensino híbrido, ensino adaptativo, entre outros. Todas essas metodologias e ferramentas de aprendizagem se originaram em estudos da neurociência cognitiva a partir do pressuposto de que quando realizados de forma colaborativa e cuidadosamente planejados através de objetivos de aprendizagem, essas ferramentas potencializam as oportunidades da sala de aula. A partir das iniciativas de diversas instituições ao redor do mundo nas últimas décadas, assistimos o ensino se flexibilizar e se tornar mais colaborativo: a formação em grupos em sala de aula para resolução de problemas reais é um dos exemplos, em vez da clássica formação enfileirada, voltada para um único docente, entre outras inúmeras realizações pedagógicas.

O avanço na utilização da tecnologia a favor da educação foi o que possibilitou a continuidade do processo educacional em tempos de pandemia. O COVID-19 paralisou o mundo por meses, mas não interrompeu a atividade pedagógica. Plataformas de aprendizagem já estabelecidas mundialmente e aplicativos da área de educação foram amplamente utilizados no ensino online. A Educação à Distância (EAD) intensificou o seu principal viés, a democratização do ensino, para um alcance ainda maior, com projeção de superar o número de calouros da modalidade presencial em 2022.

Em um contexto mundial de tantas incertezas, as lideranças educacionais devem estar atentas para o processo de inovação e criação, entendo a importância da colaboração em toda a cadeia produtiva de forma a responder com eficiência as demandas que estão surgindo diante do novo cenário socioeconômico pós-pandemia.

Em um momento onde o avanço das tecnologias digitais, a volatilidade do futuro das profissões e a turbulência do desconhecido demandam instituições preparadas para inovar e implementar mudanças estruturais nos processos pedagógicos.  Apresento brevemente as principais ferramentas que contribuem na tomada de decisão em uma organização, contextualizando-as no setor educacional, de forma a alargar as possibilidades e perspectivas desse segmento.

As Instituições Educacionais são organismos dinâmicos, assim como qualquer empresa. Possuem nascimento, declínio e morte, ou seja, respeitam um ciclo de vida que, dependendo da gestão, pode ser mais ou menos duradouro. Estão em fluxo constante, necessitando acompanhar as mudanças em todas as esferas: sociais, regulatórias, econômicas, etc e, portando, podem vir a precisar se reinventar, se reposicionar para continuarem existindo. A definição ou (re)definição fazem parte de algo maior, o planejamento estratégico, que é um processo pensado e gestado pela liderança.

Os modelos de gestão tradicionais e burocráticos das IES vêm sendo substituídos por novos conceitos de gestão educacional. A gestão estratégica deve permear a orientação das Instituições de Ensino, não mais como uma das ferramentas de profissionalização da gestão, mas de sobrevivência face à crise instaurada após a pandemia do novo coronavírus. A tomada de decisão possui um impacto relevante na adoção das estratégias organizacionais e pressupõe um ambiente de incertezas onde a avaliação dos resultados de uma decisão só pode ser efetuada após implementá-la.

Na busca constante por melhores resultados, as organizações adotam sistemas que apontem indicadores, evitando ao máximo oferecer cenários subjetivos às lideranças. Esse arcabouço de informações fidedignas que oferecem objetividade ao processo decisório é denominado de Business Intelligence (BI), entregues como ferramentas, metodologias de diagnóstico organizacional e/ou inteligência de negócios. O princípio básico das ferramentas de suporte na tomada de decisões, é que estas devem ser monitoradas e acompanhadas de forma constante e a forma como a liderança utiliza essas informações na tomada de decisões é o que vai destacá-la das outras.

No caso das instituições de ensino, a profissionalização da gestão hoje é uma realidade. A gestão dessas instituições deve ser tanto acadêmica como administrativa. Analisar relatórios de evasão, acompanhar a captação de alunos, gerenciar o fluxo de caixa, entre outros processos gerenciais devem fazer parte da rotina administrativa de escolas e universidades se desejam sobreviver, principalmente em tempos de pandemia. Os ERPs (Enterprise Resource Planning) surgem como elementos chave para contribuir na gestão de qualidade e organizar a as informações dessas instituições, que muitas vezes estão distribuídos em mais de um sistema de informação.

Entretanto, não basta apenas as lideranças optarem pela adoção de algumas dessas ferramentas. É necessário que, em primeiro lugar, as organizações educacionais tenham formuladas as suas estratégias de forma objetiva e clara, além de ter preparado a estrutura de Tecnologia da Informação (TI) para uma modernização que permita a integração dos sistemas. Cabe ressaltar, também, que as instituições de ensino são organismos complexos por sua natureza, pois são únicas em seus contextos sociais e culturais, apresentando muitas vezes uma estrutura organizacional com diferentes autoridades e muita departamentalização. E justamente essa complexidade do ambiente acadêmico é mais um motivo para implantar sistemas de inteligência de negócios, que suportem a tomada de decisões e possibilitem que a gestão tenha mais qualidade de tempo e informações assertivas para a busca da inovação nesse segmento.

Para garantir o sucesso de uma implementação de BI é recomendado uma infraestrutura mínima de suporte, que deverá contar com um ou mais profissionais especializados na área além da busca de softwares de apoio (Figura 1). Ter um analista de BI proporciona que as informações geradas se transformem em indicadores em tempo real. Uma vez implementado, o BI pode incrementar a leitura de informações em tempo real e disponibiliza-las para toda a organização, e não somente para as lideranças. Se a Instituição de Ensino preconiza a inovação, é fundamental que todos as posições que possuem poder de decisão estejam munidas da mesma visão estratégica. Hoje encontramos diversos pelo mercado, sendo os mais utilizados o Tableau, o Power BI e o Google Data Studios.

Figura 1

Fonte: IGTI Blog

A implementação do ERP também é capaz de contribuir com a eficiência administrativa nas instituições educacionais, uma vez que alinha as unidades fragmentadas graças aos seus processos embutidos, a migração para uma interface comum e as oportunidades de rastreamento das informações nos diferentes sistemas. Essa implementação, inclusive, é interessante para o consumidor final, o aluno, que tem todas as suas informações disponíveis de forma segura no portal do aluno.

           No atual cenário mundial, mais do que acompanhar as teorias da gestão, é necessário que as lideranças organizacionais estejam atentas para todas as tendências. As novas tecnologias digitais, principalmente a incrementação da Inteligência Artificial, prometem automatizar cada vez mais processos que hoje são realizados pelo ser humano. As competências demandas pelo mercado de trabalho mudam ao piscar de olhos, velocidade essa que não vêm sendo acompanhada pelo processo pedagógico na grande maioria das escolas e universidades, que insistem em replicar o mesmo modelo centenário pós-revolução industrial de ensino.

          A pandemia trouxe imprevisibilidade, mas também oportunidades. A educação vai continuar sendo uma fonte de conhecimentos para a investigação e melhoria da sociedade como um todo e as Instituições de Ensino precisam estar preparadas e conectadas com as mudanças que vieram e virão, antecipando-se ao máximo nas tendências e inovações. A tecnologia pode e deve ser uma aliada das lideranças educacionais. A tomada de decisões pelos líderes educacionais é fator determinante para o sucesso ou o fracasso das organizações e, por isso, deve ser encarada como um processo racional, suportado pela inteligência de negócios.

        O distanciamento social acarretou a migração exponencial da oferta de produtos e serviços para as plataformas digitais. Utilizar o BI como ferramenta para entendimento dessas informações disponíveis no online e mapear a interação de seus clientes e prospects é fundamental hoje em qualquer segmento do mercado.

 Mais do que uma ferramenta ou software, o BI é uma rotina, que busca incessantemente organizar e utilizar as informações de maneira assertiva para a tomada de decisões organizacional. Entretanto, os líderes não devem se isolar nessa função, mas estimular uma atuação colaborativa de todos na participação da tomada de decisões, de forma que a horizontalização contribua para aprendizados individuais e coletivos na busca pela geração de valor de uma empresa, independente do seu segmento. Esse trabalho se encerra na expectativa de poder contribuir para um momento decisivo no segmento educacional, em tempos de incerteza e fragilidade socioeconômicas. Ultrapassar a eficiência nas gestões acadêmicas e financeiras e inovar é o desafio para as escolas e universidades que pretendem contribuir na disrupção da educação. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bermudez, J. M. O., Tortorella , G. L. (2014). Motivos para adoção de um sistema ERP por uma Instituição de Ensino Superior.
Costa, C. 2020. Coronavírus: número de calouros em cursos superiores a distância vai superar o de presenciais em 2022.
Google for Education. 2018. Future of the classroom.
Fuga, M. A., Farias, F., Tregnansin, R., Olea, P. M. (2017). Análise da utilização de Sistemas de Informação Enterprise Resource Planning (ERPs) em Instituições de Ensino.
Hernandes, C. A. (2020). Fundamentos da Gestão (e-Pub). Curitiba: Contentus.
IGTI Blog. 2020. O que é Business Intelligence e qual é a importância para os negócios?
Masetto, M. T. (2015). Desafios para a Docência Universitária na Contemporaneidade. Professor e aluno em inter-ação adulta. São Paulo: Avercamp.
Moran, J. M. (2007). A Educação que desejamos (e-PUB). Papirus Editora. Edição do Kindle.
Neto, O. C. (1994). O trabalho de campo com descoberta e criação. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes.
Oliveira, S. L (2002). Tratado de Metodologia Científica: Projetos de Pesquisa, TGI, TCC, Monografias, Dissertações e Teses. São Paulo: Pioneira Thompson Learning.
SmartlabMe. 2016. Educação no Século 2: tendências, ferramentas e projetos para inspirar.
Sobral, F., Peci A. (2013). Administração: teoria e prática no contexto brasileiro (e-Pub) . São Paulo: Pearson Education do Brasil. 

voltar