Os desafios de gerir uma equipe durante a quarentena
Entre tantos jogos emblemáticos, o Maracanã foi palco de uma vitória que sempre será lembrada como uma exibição de gala do atacante Romário. O Brasil precisava vencer o Uruguai para se classificar para a Copa do Mundo de 1994. Era um instante de apreensão, afinal o escrete canarinho além de não transmitir segurança estava nervoso com uma possível eliminação inédita. O jogador, inclusive, não era o preferido do técnico Carlos Alberto Parreira. Como sabemos, Romário fez dois gols, levantou mais de 90 mil torcedores e carimbou o passaporte para os Estados Unidos. Em várias entrevistas, Romário disse que aquele fato não seria possível sem a equipe. A liderança em campo foi natural, apesar de não ser o capitão.
Estamos vivendo uma realidade inédita: uma pandemia que impôs restrição de contato no mundo inteiro fechando fronteiras, empresas e instituições de ensino. Públicas e privadas. Todas as esferas da sociedade estão enfrentando transformações para se adaptarem a este dia a dia tão distante do que estamos acostumados. “Onde vamos parar?” é um questionamento que anda ganhando a quarentena.
Uma das principais novidades é sobre a maneira de gerir e organizar equipes de forma remota: se não estamos presentes no mesmo lugar, como podemos trabalhar juntos? Como adaptar a rotina da forma menos ruidosa possível? E talvez o mais importante: como manter a produtividade da organização mesmo alterando toda a dinâmica de trabalho?
“A parte mais difícil de liderar nesse instante é juntar equipe, passar o dia falando no computador, fazendo seu cotidiano além das reuniões. Quando você está no presencial, você chega e fala com a pessoa. Diz o que acha bom e pede opinião. E assim vai seguindo. Hoje tudo é muito individual para depois descer para a equipe”, disse Karla Redig, diretora de planejamento e controle das Faculdades Integradas Hélio Alonso e da Liga.
A gestora Karla Redig acredita que um desafio é juntar a equipe.
Alguns gestores podem ficar com a impressão de que a falta de fiscalização presencial desencoraja o comprometimento dos colaboradores com a produtividade da organização. Entretanto um estudo da Harvard Business School concluiu que, com as condições corretas de motivação e flexibilidade, o home office tende a aumentar a produtividade da equipe. Para isso uma das dicas mais recorrentes dadas pelos especialistas é manter o foco nas entregas e na produtividade, em vez de investir energia na fiscalização do processo pessoal de cada colaborador. A maneira mais adequada de fazer isso é aderir a uma reunião diária de check-in, conforme sugere Jason Aten, colunista da revista voltada para o mundo corporativo Inc.com:
"O primeiro passo para adaptar uma equipe ao home office é aderir ao check-in diário. Uma reunião para alinhar com o time as entregas do dia e prover um feedback sobre a produtividade. Sempre que possível, o ideal é que aconteça em vídeo para que as pessoas possam se ver. Dependendo do teor, também é indicado que ela seja feita individualmente com cada membro do time".
Na mesma linha de raciocínio, Aten também diz que é importante manter a comunicação com a equipe ao longo do dia. Os colaboradores se sentem mais engajados quando lembram que existe um coletivo inteiro ao redor do mesmo propósito. É um efeito muito importante, principalmente em tempos de quarentena.
"Uma das coisas mais difíceis de lidar no home office é a sensação de solidão e afastamento, principalmente quando você está habituado a um ambiente corporativo presencial. Isso fica muito mais grave com a maioria das pessoas praticando isolamento social", completa Jason Aten.
Um diferencial que um bom líder pode proporcionar em tempos de home office forçado é a estabilidade e a segurança. Lydia Lee, presidente da Weber Shandwick China, destaca que em um cenário tão incerto como o que vivemos hoje demanda cada vez mais protagonismo dos líderes de equipe mundo afora:
"Faça os membros da sua equipe entenderem que você está comprometido com a estabilidade da estrutura à qual eles pertencem. Isso é feito com um relacionamento próximo e transparente, compartilhando resultados, fornecendo informações claras e comemorando as conquistas coletivas".
Fábio Viegas é diretor de tecnologia e informação do Centro Universitário Celso Lisboa e da Liga. Nesse instante, está liderando 20 pessoas para que nenhum problema aconteça com o mundo digital que conecta mais de 12 mil estudantes a 600 estudantes.
“Em momentos críticos, você precisa centrar suas decisões no que vale a pena e liderar o time para o que dá retorno ao negócio. É um desafio enorme, principalmente por causa do momento que a gente vive, por estar remoto. Mas você tendo o processo estruturado, pessoas certas do seu time ocupando lugares certos, a liderança acontece de maneira tranquila. Nesse momento, eu tento trazer a liderança para o feedback. Eu não exijo, mas eles me dão o feedback de tudo que está acontecendo”, explica Fábio, que também é sócio da Liga.
Apesar de todas as dúvidas levantadas pelo cenário instável da atualidade, o home office se apresenta como um recurso que pode aumentar a possibilidade de dinâmicas de trabalho no pós-crise. Passar por essa etapa com sucesso pode fazer toda a diferença para o futuro da sua organização, mesmo depois da pandemia.
“A grande vantagem (do que estamos atravessando) é que uniu muito mais as equipes. Elas estão mais coesas. Estão todos com o objetivo de transformar um limão em uma limonada”, finaliza Karla Redig.
Romário e a seleção foram para a Copa do Mundo como uma desacreditada equipe. Esperavam o fiasco da competição anterior, quando fomos eliminados para a rival Argentina. Não precisamos lembrar que levantamos a taça. Em jogos decisivos, o atacante foi preciso. Mas também tivemos momentos que precisamos de Bebeto, Branco, Márcio Santos, Mauro Silva e, evidente, o goleiro Taffarel. Todos beijaram a taça depois do capitão Dunga levantar. A foto com a taça compõe a estante dos 24 jogadores que venceram a competição. Não há quem esqueça.
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