Ensinar história usando Playmobil?

Ensinar história usando Playmobil?

O professor de história Juberto Santos entra na sala de aula vestido como pirata. Pistolas, de plástico, vale frisar, estão a mostra. A bandana vermelha circulando a testa dá um charme especial, apesar de também nos remeter ao vocalista Bel, famoso pela carreira no grupo musical baiano “Chiclete com Banana”. Os jovens, que estão na segunda etapa do ensino fundamental, não fazem ligação alguma com o hit maker do axé. Nem piscam. “O que será que está acontecendo?”. Mesmo sem nenhuma vocação para adivinho, era possível perceber que essa pergunta estava piscando na cuca de cada estudante.

Acompanhado de um navio e vários bonecos de playmobil, devidamente vestidos a caráter, retratando com a máxima fidelidade possível o cotidiano de uma embarcação pirata, Juberto vai contando, aos poucos, a experiência. Aquela sala de aula estava se transformando para que todos entendessem e participassem de um dos períodos mais impactantes da história: as grandes navegações.

“Os alunos interagem com o brinquedo, podem observar em 3D as cenas representadas, podem manuseá-lo, esclarecer dúvidas, entender detalhes de roupas, armas, meios de transporte, dentre outros aspectos da vida cotidiana das sociedades representadas”, explica o professor que defende atualmente seu sustento na Escola Municipal Belmiro Medeiros, na Escola Municipal Conjunto Praia da Bandeira e na rede Santa Mônica Centro Educacional. Todas estão localizadas na Ilha do Governador, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. “Possuo cenários da época das cavernas, da Roma Antiga, povos Africanos, Grécia antiga, Egito, arqueologia marinha, diversos aspectos da Idade Média (castelos, dragões, soldados, camponeses, monges e bruxas...), Velho Oeste, Guerra de Secessão, Povos indígenas do Brasil e dos EUA, histórias bíblicas, dentre outros assuntos. Sempre vejo os olhos brilharem quando são montados temas da História Antiga (Coliseu, Templos, Pirâmides, Castelos...) e as Caravelas”, antecipa.

Para seguir o clima, além de se transformar em um perigoso companheiro do lendário “Barba-Ruiva”, Juberto já se vestiu de romano, faraó e até cronista medieval. A escola para. Não tem um que não queira ver de perto. A atenção é estimulada desde o começo. “Quando vou paramentado, com as bolsas da Playmobil, que são grandes e chamativas, ou quando os bonecos maiores vão junto, realmente para tudo”, ri. Selfies rolam aos montes.

Os resultados positivos conquistados em sala de aula proporcionaram ao professor a criação do projeto “PlayEduca:a História contada pelo mundo Playmobil” e uma caminhada por outros fóruns. Ele carrega os cenários e as vestimentas para diversas escolas, faculdades, empresas, hospitais, igrejas e em feiras educacionais e literárias. Levando em conta as devidas diferenças de público e de espaço, a interação entre docente e aprendizes acontece com a mesma intensidade e o conteúdo é assimilado de maneira fácil.

“Os cenários de Playmobil tornam as narrativas históricas mais concretas. Dessa maneira fica mais fácil entender essas épocas. Elas se tornam menos abstratas”.

Em 2019, o projeto ganhou o primeiro prêmio Paulo Freire da ALERJ, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nada mal para um projeto que começou de maneira tímida, reunindo alguns bonecos empoeirados e um navio que “servia para explicar as grandes navegações”. O professor Juberto traz o lúdico, envolve a plateia, faz cada um se sentir descobridor. Descobridor de novas formas de aprender e ensinar.

Escrito por Thiago Gomide

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