A cultura maker e o resgate da diversão na aprendizagem


Entre o tempo prototipando com alunos no Fab Lab Recife e avaliando candidatos como jurado no programa Batalha Makers Brasil (Discovery Channel), Edgar Andrade ainda tem agenda para palestras e oficinas dedicadas a disseminar o mindset do "faça você mesmo". Porém ele é categórico ao afirmar como a cultura maker vai bem além de impressoras 3D ou cortadores a laser.
"Eu vejo em dez, quinze anos, todos os professores e professoras usando essas dinâmicas de aprendizagem criativa. Eu penso que no futuro a galera vai ser formada para usar essas experiências, não necessariamente envolvendo tecnologias — máquinas como a cortadora a laser ou a impressa 3D — o mais importante é trazer um novo processo para estimular a busca pelo conhecimento, a busca pelo aprendizado, deixar as escolas mais divertidas, mais legais. O maior desafio é esse."
Os Fab Labs são uma espécie de espaço maker (makerspaces) bastante popular no mundo, com 550 unidades no total, sendo 22 instaladas em cidades do Brasil. Os ambientes são desenhados para permitirem a colaboração e a prática experimental, de modo que erros e acertos sejam fundamentais para uma aprendizagem mais ágil e significativa. A tecnologia tem um papel nesses espaços, porém elas são só o meio, nunca o fim. Elas devem estimular a autonomia para irmos atrás do conhecimento e potencializar nossas interações com aqueles ao redor.
As origens de uma cultura divertida e mão na massa
"Eu sou um otimista por natureza, acredito que tudo o que estamos fazendo hoje para levar a cultura maker para as escolas faz parte de um processo de construção de cultura mesmo." A fala de Edgar Andrade elucida bem a postura do que é ser maker — ser parte de uma cultura que foi consequência de um movimento, portanto, não se trata de metodologia e sim de postura. Postura essa que permite o lúdico andar lado a lado com o aprendizado.
O movimento maker surgiu com Dale Dougherty nos Estados Unidos como uma forma de trazer sentido ao processo de manufatura, de provocar os americanos a se enxergarem não mais como somente consumidores, mas também como produtores.
A Atmel Corporation, líder mundial no design e fabricação de microcontroladores, já calcula que há aproximadamente 135 milhões de adultos makers no Estados Unidos, isso excluindo as crianças e os adolescentes que dão os primeiros passos em feiras de ciências e experimentos nos porões de casa.
O modelo tradicional é o mais equivocado
Saranne Magennis e Alison Farrell expuseram as três mais eficazes formas de retenção de conhecimento no seu artigo de 2005:
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ensinando os outros (90% de retenção);
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praticando o conhecimento (75% de retenção);
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discussões em grupo (50% de retenção).
Assistir a uma palestra (a que seria equivalente a uma aula tradicional) retém somente 5%, enquanto que a leitura fica em seus míseros 10%. Um argumento mais do que suficiente para soar como um alerta de que o modelo tradicional de aprendizagem, de transmissão de conteúdo, não é mais suficiente para desenvolver as competências integradas e a autonomia do estudante.
Edgar crê que seu trabalho tem prazo de validade, pois seu propósito é justamente permitir uma mudança de mindset. Uma vez feita a mudança, ele espera que tanto alunos quanto professores sejam capazes de andarem com as próprias pernas dentro do universo maker.
"A gente está enfrentando essa barreira da quebra de cultura de um modelo tradicional que para mim já está vencido. Na minha visão, o nosso maior objetivo é se tornar desnecessário."
Uma cena também brasileira
A cena maker brasileira vem crescendo de norte a sul, com makerspaces já instalados tanto em Belém quanto Porto Alegre.
Um dos espaços de maior destaque fica em Recife-PE, lar do parque tecnológico Porto Digital, que é o endereço do Fab Lab de Edgar e de tantas outras startups e multinacionais. Hoje, nesse ecossistema empreendedor, já são mais de 270 empresas responsáveis por um faturamento de cerca de um bilhão e meio de reais.
Um dos 8,5 mil colaboradores presente no Porto Digital é Pedro Gomes, fundador da startup, Galo da Redação. Podemos considerar Pedro um mão na massa, ou como o mercado gosta de chamar: um "hands on". Ele resolveu criar a própria empresa para reinventar a aprendizagem da redação ao enxergar os erros que sua faculdade insistia em manter apostando nas aulas incapazes de dialogar com o contexto social dos alunos.
Ainda no curso de Graduação em Comunicação Social, Pedro, basicamente quer levar as metodologias ativas para um grupo maior de estudantes universitários.
"Na faculdade de comunicação nós não temos acesso a esse tipo de literatura (metodologias ativas). Quem vai ter é o pessoal de pedagogia e das outras licenciaturas como física, matemática..."
É preciso aprender a aprender
Para os próximos passos do Galo da Redação, Pedro quer melhorar a experiência virtual. "Queremos lançar uma plataforma. Nós não temos uma até então, por enquanto trabalhamos com as ferramentas do Google e ali fazemos um acompanhamento online. Também temos um grupo de Whatsapp, onde trocamos informações, mas sabemos que esse processo seria melhor otimizado dentro de uma plataforma. Esse é um plano futuro para 2020, junto com um Canal do YouTube."
A facilidade em se construir relacionamentos e a capacidade de aprender novos conhecimentos são as competências mais desejadas pelas empresas, segundo report da Affero Lab divulgado em 2016. Os novos negócios exigem que os novos profissionais sejam adaptáveis. Quem aprende mais rápido novas competências é quem vai fazer a diferença no mercado e na sociedade, pois quando acumulado, o conhecimento permite inovar em busca de soluções para novos problemas. Pedro entendeu isso, sua faculdade ainda não.
Aprendemos porque criamos, não o contrário
A busca pelo saber precisa ser motivada, pois assim desenvolvemos outros alicerces como protagonismo e responsabilidade. O "aprender fazendo" é mais que um novo posicionamento educativo, é naturalmente a escolha do indivíduo, que precisa do erro e do acerto para desenvolver seu senso crítico e capacidade colaborativa.
Como dizia Paulo Freire, educar é comunicar. Aprendemos dialogando com outros e construindo em conjunto o conhecimento. Isso é bem semeado quando nos deparamos com um espaço de aprendizagem propício à investigação e à resolução de problemas.
O movimento maker prega o "faça você mesmo", sem esquecer também o "faça com os outros". A colaboração é fundamental para despertar ideias e facilitar sua aplicação em processos complexos.
O ser humano, frequentemente, tem sido chamado de explorador e contador de histórias, mas não podemos esquecer que também somos criadores. A cultura maker pode soar como uma novidade, mas suas raízes são ancestrais.
Escrito por Raphael Marques da Silva
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