EAD: sem interação e colaboração, só resta a mediocridade

EAD: sem interação e colaboração, só resta a mediocridade

Entrar em uma sala de aula onde não há troca nem colaboração com o professor e com os colegas, onde o conteúdo é exposto de maneira linear, cansativa e pouco atraente, além de você ser obrigado a decorar a matéria para fazer uma prova. Pesadelo? Não, realidade, pois muitas faculdades ainda são assim. Agora, ter de passar por tudo isso estudando a distância. Aí não dá, não é?

Apesar de estar em forte ascensão, o ensino a distância oferecido no Brasil é motivo de muitas reclamações por parte dos estudantes, que não se sentem motivados e engajados com o que deveria ser o objetivo mais importante: APRENDER GENUINAMENTE!

Tendência no mercado de educação, o Ensino a Distância (EAD) é a modalidade que mais cresce no país: entre 2007 e 2017, o salto no número de novas matrículas foi de 375,2%, enquanto o ensino presencial avançou tímidos 33,8%, no mesmo período. E a grande maioria dos alunos da modalidade EAD está matriculada em instituições de ensino superior privadas: 90,6%. Os dados são do último Censo do Ensino Superior, divulgado em 2018.

O EAD ainda é tratado como modalidade de ensino, e não como uma alternativa que leva em conta a tecnologia disponível para a sociedade, capaz de potencializar possibilidades, trocas e interações. O estudante, é tratado como alguém a distância, e não articulado em colaboração com os demais, para construir experiências positivas em relação à construção do conhecimento.

 

Mas por que esse modelo tem conquistado tantos adeptos? 

Num mundo cada vez mais conectado, a educação também passa por transformações. Diretor de Relações Nacionais na Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), Carlos Longo destaca que esse aumento na procura pelo EAD mostra uma sociedade com mais acesso à informação e à tecnologia. Outros dois fatores que contribuem são: o custo mais baixo, quando comparado com os cursos tradicionais; e a flexibilidade para estudar a qualquer hora e em qualquer lugar. 

Segundo ele, quando o ensino a distância surgiu, em meados de 2005, houve uma rejeição da população, principalmente pela qualidade e desconfiança de estudar de forma remota. Hoje, com a tecnologia como parte da sociedade, o preconceito diminuiu.

Por outro lado, para atrair cada vez mais alunos, muitas universidades que oferecem o ensino a distância lançam mão de várias facilidades aos alunos, principalmente no preço do curso, sempre menor.

É nesse ponto que muitas instituições de educação mostram que estão mais preocupadas com os seus números financeiros do que com uma formação significativa, em conexão com a sociedade: sem investimento no desenvolvimento de plataformas que unam educadores e estudantes na busca pelo conhecimento com olhar crítico, muitas universidades recorrem a sistemas e conteúdos prontos de editoras e acabam ficando com um material semelhante uma das outras. O aluno não vê diferença do curso de administração da faculdade A ou B, por exemplo, pois a plataforma geralmente é a mesma de outras instituições. A diferença está somente na marca.

  

Educação como commodity

Sem encontrar um curso a distância que permita interação, colaboração e um aprendizado que resulte no domínio de competências integradas, de forma independente, o aluno começa a ficar cada vez mais sensível a preço, culminando em um achatamento das margens do mercado. Sem conseguir gerar um resultado efetivo na formação do aluno, a instituição acaba perdendo seu valor e reputação, em vez de estar centrada no aumento da satisfação e da permanência dos estudantes como meio para conformar um novo modelo de gestão que gere resultados sustentáveis.

Gestor Acadêmico da Celso Lisboa, Eduardo Halpern explica que, para entrar no mercado do EAD, é preciso um investimento alto, principalmente com a produção de conteúdo audiovisual, criação e customização de uma plataforma e de conteúdo, elaboração de polos, além de todo o esforço de marketing para nacionalizar a oferta de um curso que antes era oferecido apenas regionalmente.

Halpern é categórico ao afirmar que o mercado de ensino a distância no Brasil está bastante comoditizado e com os preços muito depreciados. Com isso, acaba sendo uma alternativa mais conveniente a ser oferecida para o aluno, pois não envolve custos de transporte e alimentação, por exemplo. Contudo, é também uma alternativa de investimento mais fácil e barata para as instituições, que não precisam gastar, dentre outras coisas, com o espaço físico da sala de aula e formação de professor.

 

O momento é fantástico para transformações

Com a preocupação de oferecer uma experiência de aprendizagem aos estudantes, algumas universidades estão reinventando a forma de ensinar. A Unicesumar - Centro Universitário Cesumar – em Maringá, no Paraná, é um exemplo. A instituição criou, em 2017, o Studeo, uma plataforma própria de EAD que conta com 56 opções de graduação e 90 ofertas de pós-graduação. Mas para concretizar o sonho de ter o próprio modelo EAD, Janes Fidélis Tomelin, pró-reitor de ensino EAD da universidade paranaense, lembra que foi um longo tempo dedicado à pesquisa e produção de conteúdo.

O Studeo foi criado para acompanhar os valores e o modelo pedagógico da Unicesumar. Dois anos depois, a instituição já conta com mais de 190 mil alunos em todo o país. Para criar o modelo EAD houve um custo considerável, pois a plataforma deveria agregar funcionalidades que permitissem a aplicação de metodologias ativas, e uma integração com as aulas presenciais. Além, claro, de toda a gestão do curso, a partir das atividades dos professores e de canais de comunicação dedicados e controle de dados.

Tomelin ainda reforça que as instituições de ensino que optam por renunciar a uma identidade metodológica e compram plataformas de terceiros estão reféns de quem comercializa esse material. Para ele, a tecnologia transformou a experiência dos usuários.

Com esse exemplo, é possível se perguntar: como é a identidade metodológica das instituições que compram plataformas pré-fabricadas e material pronto? No caso do Studio, e também da Celso Online – plataforma de EAD da Celso Lisboa -, há mais agilidade na entrega dos conteúdos, estabilidade das ferramentas, leveza dos acessos e a tecnologia é utilizada para encurtar distâncias e estimular a autonomia na busca pelo conhecimento, na interação com o outro — os próprios estudantes e o professor — e com o mundo.

As pessoas se sentem mais acolhidas e familiarizadas com esses sistemas e dependem menos dos modelos físicos. As plataformas devem ser facilitadoras dos principais valores de uma aprendizagem transformadora, não medíocres transmissores de conteúdo. Desta forma, é possível uma aprendizagem alinhada aos problemas da sociedade, fazendo com que os alunos compreendam o valor do conhecimento.

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